Quais são as principais barreiras do sexo oral para mulheres e em que medida essas barreiras jogam contra o seu prazer na hora do sexo? Será que vale a pena encarar tanto desconforto em busca de um pouco de prazer? Será que o sexo oral feminino é mesmo essa cereja do bolo como muitas mulheres falam?
Alguns benefícios a respeito do sexo oral feminino e caminhos possíveis para contornar tabus, medos e vergonhas quando o assunto é sexo oral.
Todas as mulheres são iguais? haveria uma resposta única para esta pergunta se todas as mulheres do mundo fossem exatamente iguais, mas esse não é bem o caso.
Assim como a nossa personalidade possui diferenças de uma pessoa para outra e características singulares que nos tornam únicos, o prazer, para a maioria das mulheres, também é um espectro de possibilidades. Nem tudo que funciona para uma funcionará para a outra e vice e versa.
Há mulheres que encontram no sexo oral feminino o grande graal do prazer. Mas, na mesma medida existe uma considerável quantidade de mulheres que não essa atividade. Para elas, é muito alarde sobre uma coisa que nem proporciona tanto prazer assim.
No entanto, raramente a ausência de prazer no sexo oral relatada por essas mulheres está relacionada a fatores fisiológicos, mas sim, a dois principais fatores que atrapalham o prazer na hora do sexo, uma mente que não desliga e se julga a todo momento ou o envolvimento com uma pessoa que não faz a menor ideia do que está fazendo lá “em baixo”, mesmo quando o corpo está relaxado e disponível para receber prazer.
Muitas mulheres encaram uma real dificuldade na hora do sexo oral porque sua mente fica dominada pela autocrítica e pelo medo do julgamento que pode partir do outro.
O fato de vivermos em uma sociedade machista e misógina fez com que muitas mulheres desenvolvessem uma forte insegurança em relação ao próprio corpo e uma relação de tabu com a vulva, seus relevos, texturas, pelos e cheiros.
Na hora da acção, esses medos mal trabalhados são os primeiros a virem à tona:
Será que meu corpo incomoda?
E se acharem meu cheiro mau?
Será que eu mereço mesmo toda essa dedicação?
O que vão achar se eu demorar em atingir o orgasmo, ou e se eu não atingir o orgasmo?
Sexo oral feminino não é um favor, por isso e antes de mais nada, é preciso que a mulher saiba de que o sexo oral feminino é algo possivelmente prazeroso. Que o seu corpo, com todas as suas singularidades, curvas, relevos, texturas e cheiros, também é fonte de prazer e de excitação para a pessoa com quem você está se relacionando. Ou seja, sexo oral não é um favor que se faz a alguém. É algo que se faz no sexo porque resulta em prazer para todos os envolvidos. Se a realidade se mostrar diferente disso muito provavelmente é porque o problema não está em você ou no seu corpo, e sim na pessoa com quem você está se relacionando. Prazer no sexo oral mesmo quando a mente teima em sabotar, se você percebe que o medo, a vergonha e o tabu são factores que atuam como barreira ao seu prazer na hora do sexo oral, a primeira coisa que você pode fazer por si é ter gentileza consigo e com o tempo dos seus processos. São muitas gerações de mulheres que sofreram o controle e opressão sobre o exercício livre da sexualidade, muitas outras que sofreram situações de violência ou humilhação durante suas experiências sexuais. Memórias ancestrais ou memórias vividas que marcam a relação com a sexualidade, então está tudo bem se não se sentir pronta ou confortável em determinadas situações. Mas uma vez que a mulher consegue aos poucos trabalhar esses medos, vergonhas e tabus, fortalecendo o entendimento de sentir prazer, é importante compreender também que o prazer no sexo oral feminino é um processo que começa na intensão e termina na satisfação, mas que compreende muitas etapas no meio desse caminho.
Raramente o sexo oral feminino começa com a excitação no alto. Primeiro é preciso ter o desejo, a disponibilidade e a intenção de ter prazer. Em seguida é preciso tempo e dedicação para criar gradualmente uma carga orgástica no corpo que recebe o estímulo para aí sim ser capaz de desfrutar uma descarga prazerosa. E isso, para as mulheres, não é um processo de 2 ou 5 minutos.
A indústria pornográfica é o principal fator que contribui para o entendimento de que o prazer é um fast food: estimulou, atingiu o orgasmo.
Nos filmes as pessoas são submetidas a estímulos curtos, rápidos e intensos que as levam a um orgasmo (fingido, diga-se de passagem) em pouquíssimos minutos. Isso faz as pessoas achar que têm alguma coisa errada com o corpo, afinal, quem consegue reproduzir essa performance na vida real?
É preciso compreender que o prazer para as mulheres é muito mais complexo que isso.
As mulheres possuem uma fisiologia do desejo sexual que é mais responsiva, que está muito relacionada com a fase do ciclo menstrual, e que depende de uma certa qualidade de excitação para que se atinja o clímax. Em outras palavras, não é um corpo que goza com qualquer convite ou com qualquer migalha de estímulo. Por outro lado, também é uma fisiologia que tem maior capacidade de sustentação de carga orgástica, e por essa razão, pode vivenciar mais de uma descarga prazerosa, com diferentes intensidades, em uma mesma interação sexual.
De forma simplificada é como se os homens tivessem a fisiologia de um forno elétrico: aquecem rápido e cada vez que atinge o pico ele desarma, arrefece e precisa de um tempo para ser capaz de aquecer de novo.
Já as mulheres funcionam mais como um forno a lenha: precisam de mais tempo para aquecer, mas uma vez quentes permanecem aquecidos e são capazes de assar várias pizzas numa mesma fornada, ou seja, vivenciar várias descargas prazerosas antes de precisar parar para se recompor.
Outro fator principal que actua como barreira na hora do sexo oral feminino é quando o parceiro ou a parceira não conhece e não descobre os caminhos de prazer do corpo da mulher que está sendo estimulado.
Diferente dos homens, que possuem uma anatomia bastante explícita, digamos assim, as mulheres possuem uma anatomia muito mais diversa.
Os pontos de maior sensibilidade e prazer no corpo de duas mulheres podem ser completamente diferentes, mesmo que as duas desfrutem das mesmas estruturas anatómicas prazerosas: lábios internos, lábios externos, clitóris, uretra, vagina, glândulas da vulva e períneo.
Muitas vezes a diferença entre o prazer e o desconforto está na intensidade do toque, no ritmo do movimento, na rigidez da língua, no ponto da vulva que está sendo estimulado.
O melhor cenário para a descoberta do prazer durante o sexo oral é a possibilidade de testar diferentes estímulos e trocar percepções com o seu parceiro ou parceira na hora ou até mesmo depois do sexo. O importante é criar um canal de comunicação. Seja este um relacionamento de longa data ou um encontro casual. Pode ser que a mulher não se sinta à vontade para falar diretamente o que gosta no sexo, portanto ajude o parceiro ou a parceira a compreender os sinais de prazer, excitação, ou de desconforto do seu corpo através de outras linguagens: gemidos, olhares, gestos. Pode ser que não sinta prazer na primeira vez que fizer sexo oral. Pode ser que leve 30 minutos de estímulo até começar a sentir alguma excitação. Pode ser que a fase do ciclo interfira na disponibilidade e no desejo na hora H. Pode ser que leve tempo para o seu parceiro ou parceira se familiarizar com o seu corpo e criar habilidade para estimular as suas zonas específicas de prazer. Seja qual for a situação, o facto é que se acostumar, gostar e chegar ao orgasmo com o sexo oral é um processo que exige paciência e tentativa para a grande maioria das mulheres
Para concluir, seja mulher, ou uma pessoa que se relaciona com uma, o facto é que o sexo oral pode ser tanto uma fonte de imenso prazer, como uma fonte de inseguranças e ansiedades.
Neste artigo procurámos compreender alguns factores que actuam como barreiras no prazer no do sexo oral feminino bem como alguns caminhos possíveis para desconstruir essas barreiras e estabelecer uma relação mais positiva com o corpo da mulher e com seus parceiros e parceiras na hora do sexo.
Mas há que reforçar o principal de toda esta reflexão:
Sabemos que há muito a se desaprender e a se reaprender sobre sexo e sexualidade para que sejamos capazes de superar nossos medos, vergonhas e tabus e permitirmos sentir prazer. E esse é um caminho longo, talvez de toda uma vida.
Muitas vezes o seu parceiro ou sua parceira trás consigo seus próprios conceitos e tabus a respeito do sexo, da vulva, das curvas, dos relevos, das texturas e dos cheiros. E aí não vai adiantar de nada se só a mulher estiver comprometida com a vontade de mudar.